QUEM TIVER OUVIDOS DE OUVIR, QUE OUÇA


  Desde 1848, exatamente a partir de 31 de Março, que pesquisas e mais pesquisas têm sido elaboradas em função do Espiritismo, procurando-se uma única coisa: a comprovação dos fenômenos espíritas.  

  Foi nessa data, em Hydesville, no Estado de New York, nos Estados Unidos, que a família Fox se viu às voltas com um caso de “poltergeist”, quando uma de suas filhas, aos 11 anos, passou a manter um diálogo – inteligente – através de pancadas com o Espírito de um caixeiro viajante, que dizia ter sido assassinado pelos antigos moradores da casa. De conhecimento público, na sua maior espontaneidade, os efeitos físicos continuaram por um bom tempo, arrebatando multidões de curiosos.

  Deflagava-se, assim, uma onda de manifestações espíritas espontâneas e provocadas não somente ali, mas também na Europa, iniciando-se as primeiras pesquisas de cientistas sobre o assunto. Concluíram, na época, que as comunicações eram uma fraude, alegando-se que as irmãs Fox provocavam os tais barulhos ao estalarem seus próprios joelhos. Somente mais tarde, em 1914, viria a comprovação da veracidade das afirmações do Espírito – seus despojos foram finalmente encontrados e enterrados no terreno da casa da família.

  Outros fenômenos e outras pesquisas vieram, até que Allan Kardec resolveu realmente entender porque, depois, também as mesas giravam, levitavam e respondiam a uma platéia de curiosos, que se contentavam em simplesmente admira o espetáculo. A história todos os espíritas já sabem. Está nas obras que o mestre lionês tão brilhantemente codificou, para trazer da forma mais simples e metódica possível o que já nos havia sido prometido por Jesus: o Consolador Prometido.

  Uma equipe de espíritos elevados, comprometidos com a Verdade, foi revelando aos poucos não só a existência, mas como funcionava o mundo espiritual. Estaria aí, então, a solução de todos os problemas da humanidade – uma Doutrina com tríplice aspecto (Filosofia, Ciência e Religião) que traduzia e esmiuçava tudo o que queríamos e podíamos saber, em todos os detalhes, para que finalmente respirássemos aliviados. Mas, tão progressista e diferente que era, a Terceira Revelação nos deixava um alerta: curvar-se –ia a novas descobertas, porque baseava-se na fé racionada, que deveria estar sempre face a face com a Ciência em todas as épocas.

  Incansáveis, seus seguidores continuaram a buscar seu entendimento. Hoje, passados 147 anos da publicação de O Livro dos Espíritos, um fato é incontestável: nunca se falou tanto de espíritos, de mundo invisível, de reencarnação, de vidas passadas. O assunto está em toda mídia. E muitas pesquisas certamente virão.

  A incredulidade do homem, porém, não se estabelece apenas pela falta de provas, mas também pela dificuldade que encontra no seu íntimo para compreender as verdades espirituais, pelo grau inferior de evolução em que ainda se encontra no caminho da perfectibilidade. E. também, já nos ensinaram os espíritos, sabe-se que o progresso não dá saltos.

  Por isso, independentemente da sua necessidade, da importância e inquestionável valor científico, a comprovação dos fenômenos espíritas nem sempre será o bastante para convencer e transformar o homem, fazendo-o acreditar naquilo que não entende, porque primeiro ele terá de conquistar por esforço próprio a condição de ter ouvidos de ouvir e olhos de ver.

  O Espiritismo, seguindo o Evangelho de Jesus, aclara as consciências, libertando-as da dúvida pelas conquistas morais. Só assim o homem compreenderá verdadeiramente, como já disse Einstein, que Deus realmente não joga dados.


(Texto extraído do editorial do “Jornal Espírita” Agosto 2004)